O Personagem
Colocar elementos metalinguísticos em uma historia pode acabar virando uma armadilha,algo que o autor fica fazendo só pelo truque narrativo, sem propósito nenhum. Felizmente Diamond is Unbreakable não cai nessa armadilha.
Rohan Kishibe é um dos personagens de Diamond is Unbreakable, a quarta parte de Jojo’s Bizarre Adventure(spoilers). O personagem representa um alter ego para o seu próprio criador, Hirohiko Araki.
O personagem não é transposto exatamente com a personalidade do autor,ele é escrito como o ápice que um mangaká pode ser (cumpre prazos,é bem sucedido e ainda tem tempo pra viver como quiser). Está sempre em busca de inspiração para o seu mangá,em uma busca de transpor para seus leitores a realidade. Por isso ele tem uma personalidade muito arrogante e prepotente,por ser esse super mangaká e é muito curioso.
Heaven’s Door
Sempre que o Rohan esta em cena pode se analisar em duas camadas. A camada narrativa do personagem na historia e a segunda camada, da metalinguagem,do que Hirohiko Araki tem a dizer sobre a própria historia. Para entender essa dinâmica é preciso entender o Heaven’s Door
Os stands são uma manifestação física da energia vital(ou psíquica se preferir) de seu usuário,ou seja é um poder que vai refletir a personalidade de seu usuário. O stand do Rohan, Heaven’s Door explora esse conceito muito bem, porque é um stand que transforma pessoas em paginas,permitindo ler e dar ordens a outras pessoas. Reflete essa curiosidade mórbida do Rohan de sempre querer saber novas historias,ter inspirações para seu mangá(seguindo esse filosofia de conhecer a realidade). Ao mesmo tempo que é o avatar do autor dentro da historia lendo e dando comandos aos personagens, porque ele é o próprio criador deles!
Isso acaba funcionando como uma forma de analise sobre o próprio mangá:
O Rohan analisando a personalidade do Koichi e destacando que é uma de que o leitores provavelmente vão gostar.
Ou então ele percebendo o complexo do Okuyasu, que ainda se sente muito dependente do seu irmão.
Varias situações como essas são feitas com essas duas camadas em mente,o mangaká profissional Rohan Kishibe reconhecendo tropes e técnicas narrativas que também é o próprio Araki comentando sobre seu mangá.
No anime isso acaba não ficando tão claro,porque é diferente um mangaká em um mangá de um mangaká em um anime,perde um pouco do elemento desconstrucionista de reconhecer o próprio mangaká dentro do mangá. Mas o anime tem muitos méritos,principalmente em por cenas em novos contextos que façam sentido no anime. Como por exemplo essa:
Em que o Rohan pensa em como fazer o Josuke abrir os olhos pra ver o mangá dele,e ai o pessoal do anime colocou um contador no canto pra mostra quantos milissegundos estão se passando com ele pensando, justamente satirizando essa coisa do “5 minutos de Namekusei que dura 15 episódios” que é uma reclamação que muita gente faz,que acha que o tempo corrido de episódio é o mesmo que o tempo passado dentro da historia e não consegue abstrair esse tipo de coisa (mas é claro que tem adaptações que são muito exageradas,como o próprio “5 minutos de namekusei”).
Autoconsciência?
Eu gosto muito de quando o Rohan descobre a identidade do Kira usando o Heaven’s Door no Hayato, é muito representativo do que é Jojo:
Nessa cena é o próprio Hirohiko Araki usando seu poder de criador do mangá pra descobrir a identidade do Kira e perdendo,porque criou um poder invencível,que nem ele mesmo pode derrotar!
Tem também o Spin off Thus Spoke Rohan Kishibe que é praticamente um Angeli em crise no estilo manga de mistério, é muito bom (tem no momento 2 adaptações em OVA).
