Alguns problemas das historias em quadrinhos da Marvel e DC é a grande carga cronológica de seus respectivos universos e muitas vezes a falta de liberdade dos roteiristas em escrever para os personagens dessas duas editoras,seja por causa dessa carga cronológica ou também por serem do grande escalão da editora.
Porém,nos últimos anos tiveram excelentes historias que vão justamente “consertando” esses problemas, com historias mais isoladas e sem grande relevância para o universo em questão (muitas vezes utilizando personagens desconhecidos).
10 -Quicksilver: No Surrender de Saladin Ahmed e Eric Nguyen

Uma mini serie bem legal,por mais que seja um spin off do Avengers No Surrender é bem isolada e foca no Mercúrio preso em um mundo “estátua”,onde nada se move.O grande conflito são criaturas que perseguem matam as pessoas nesse mundo parado,que são manifestações das características ruins da personalidade do Pietro Maximoff. É bem interessante pq é tipo um resumão do personagem,da relação dele com a Feiticeira Escarlate,os mutantes,vingadores e tudo mais.Eu que nunca me importei com o personagem consegui me conectar com o conflito da historia.O desenho é competente e o Saladin Ahmed escreve bem demais!
9 -Black Widow de Mark Waid e Chris Samnee

A Viúva Negra talvez seja a personagem mais popular nessa lista,mas mesmo assim não tem uma grande relevância para o universo Marvel como um Capitão América ou Homem de Ferro. Aqui temos uma historia bem bacana de espionagem focando nessa parte sombria da personagem e mais longe desse grande universo (apesar de ter umas coisas aqui e ali).

A parte da índole dúbia da personagem é muito bem trabalhada com ela tomando uns caminhos muito inesperados, contribuindo pra esse clima de suspense.
8 -The Omega Men de Tom King e Barnaby Bagenda

Fazendo parte do DC YOU, iniciativa que tinha o objetivo em fazer historias mais isoladas da Cronologia, um dos primeiros trabalhos do Tom King já se mostra bem interessante.

É uma Space Opera muito pesada, lidando com questões como religião, genocídio, xenofobia e guerra. Os pontos mais interessantes do roteiro é ver essa família disfuncional que acaba sendo os Omega Men e como fica intrincado o panorama político da historia, de forma bem inesperada. É um quadrinho muito bem estruturado, com o layout de paginas da primeira metade de cada edição refletindo a segunda metade e subsequentemente com as 6 primeiras edições refletindo as 6 ultimas (em referencias à simetria da letra ômega). Em Omega Men já temos o Tom King brincando com as paginas de 9 quadros.

O Barnaby Bagenda não tinha trabalhado em HQs antes, por isso a estruturação proposta pelo Tom King ajuda muito o artista em contar a historia por dar esse ritmo mais preciso (e mais óbvio). Se eu não soubesse dessa informação, nem perceberia que ele é um artista iniciante.
7 -Moon Knight de Warren Ellis e Declan Shalvey

Depois da fase (bem questionável) do Bendis, o Warren Ellis reposiciona o cavaleiro da lua como o vigilante maluco que deve ser. Traz varias ideias bacanas,como por exemplo integrar de vez esse lado de mitologia egípcia com a parte super herói do personagem, então o cavaleiro da lua é um vigilante que enfrenta coisas sobrenaturais e não só criminosos. A maneira que o Declan Shalvey faz o design do personagem deixa o branco muito saltado,por isso essa coisa dele quer que os bandidos veja ele chegando fica muito impactante.

Dou um destaque especial a Edição #5 que trabalha toda uma situação de invadir um prédio indo derrotando os vilões andar por andar e chegar ao topo para resgatar uma refém.Uma coisa que eu não gosto de historias de herói, é que as cenas de ação são muito breves e comprimidas(e se vc já leu coisas como Hunter x Hunter fica especialmente ruim).Mas essa edição é toda focada como uma set piece única executada de maneira extremamente competente pelo Declan Shalvey

6 -Hawkeye de Kelly Thompson e Leonardo Romero

É uma fase mais recente, que foca no melhor Hawkeye… a Kate Bishop!
Eu não tenho muito apego aos super heróis,tirando o Capitão América e o Superman não tem muitas historias que eu leria só pelo personagem,mas Kate Bishop entra nessa exceção. Que personagem excelente! Muito engraçada e espontânea,se eu já gostava muito da personagem na fase Fraction/Aja, a Kelly Thompson a eleva mais ainda.

Ao invés de seguir como foi o All New Hawkeye de ficar parecendo que voltou ao “comum” de super herói,A historia segue com a Kate Bishop abrindo um escritório de investigação,então tem mais um clima de suspense em algumas edições mas ainda nesse estilo “Filme indie” que teve anteriormente.O Leonardo Romero é incrível,faz uma arte mais “quadrinho clássico” mas é muito dinâmico e a par com a narrativa dos quadrinhos atuais,sensacional!
Um destaque para as cores da Jordie Bellaire,principalmente nas partes dos Flashbacks.

5 -Hawkeye de Matt Fraction e David Aja

Esse é especial,só não tá numa posição mais alta pq o David Aja não faz todas as edições,então perde um pouco a sensação de unidade (mas os outros artistas são bons também).É uma reformulação que foca na vida comum do Clint Barton,dele tendo que cuidar da criminalidade no bairro dele,da sua vida amorosa e familiar.Pondo a sinopse assim da até a impressão de “O Gavião Arqueiro virou o homem aranha?” mas a maneira que é executada é muito única e inventiva.

Eu gosto muito das ideias apresentadas aqui: Clint meio comunista™ ajudando o pessoal do prédio;O Tony Stark com sua genialidade não consegue desembaraçar fio amontoado de aparelhos eletrônicos;Qualquer coisa e o gavião arqueiro ta todo quebrado;Fazer uma quadrinização e letreiramento que representem como alguém surdo se comunica etc. São boas ideias,muito bem executadas.
Ah,e tem o Pizza Dog…

É muito impressionante a inventividade dessa edição #11. Uma edição contada toda pelo ponto de vista do cachorro do Clint.Como se o letreiramento por sinais e símbolos já não fosse interessante o suficiente tem uma sacada narrativa muito boa de que os acontecimentos das próximas edições são todos vivenciados pelo Pizza Dog nessa edição.
4 -Moon Knight de Jeff Lemire e Greg Smallwood

Se o Warren Ellis restabeleceu o personagem,o Jeff Lemire aprofunda no psicológico dele. É muito bem explorado o que cada personalidade é pro cavaleiro da lua,como é essa condição do personagem de não saber o que é realidade e como isso torna difícil sua própria auto compreensão

No estilo de historias como Alucinações do Passado e Doze Macacos (sem a parte da viagem no tempo) essa é uma das melhores coisas que já li na Marvel e vai ser difícil ter uma historia do cavaleiro da lua melhor do que essa.Tem a melhor utilização de branco em HQs,utilizando quadrinização e as cores (da Jordie Bellaire) pra fazer uma identidade visual única. Nem preciso comentar os Desenhos do Greg Smallwodd…

3 -Black Bolt de Saladin Ahmed e Christian Ward

Muito impressionante como no seu primeiro trabalho o roteirista Saladin Ahmed faz um quadrinho ganhador do Eisner de melhor nova serie.

Quando eu vi que uma HQ do Raio Negro (personagem bucha nº29 da Marvel) era boa eu simplesmente não consegui conceber e fui correndo ler... Valeu a pena.
É uma Ficção científica da mais alta qualidade,com alienígenas e vários conceitos Sci Fi muito malucos,onde a arte do Ward funciona perfeitamente,sendo essa coisa meio fluida e lisérgica. Mas não é daquelas historias que ignoram a essência do personagem (sim continuo falando do RAIO NEGRO[!!!]) e cria algo totalmente novo do zero,aqui a historia é justamente focada na dificuldade do Raio Negro de não conseguir se comunicar com as pessoas,é trabalhado como ser mudo traz muitas dificuldades pro convívio com as pessoas.

É muito interessante como o Ahmed utiliza toda coisa pueril dos personagem da década de 60 e 70 (da sua origem com Stan Lee e Jack Kirby) pra aprofundar mais ainda nessa conceitualização dele como alguém com uma condição que se encaixa no espectro autista (nunca é dito com essas palavras mas é bem clara a alegoria a condição, da maneira que é mostrado desde o seu nascimento).

Outro destaque é a edição #7 com um artista convidado,o Frazer Irving,que faz de maneira magistral uma edição com poucos diálogos narrada na maior parte pelos sentimentos e pensamentos do Raio Negro.

2 -Vision de Tom King e Gabriel H. Walta

A melhor historia da marvel dos últimos anos.O que poderia dar errado se o Visão,tentando se tornar uma “pessoa normal”,criasse uma família?. É essa sinopse que é trabalhada aqui,em um clima meio slice of life bizarro.

O Tom King trabalha muito bem essa estranheza de uma maquina criando outra vida e tentando se passar pro ser humano,quando ela nunca vai conseguir por ser essencialmente uma criatura diferente.Além disso é muito bem questionado essa coisa da vida normal,do “sonho americano”,algo dito como a felicidade,o ideal de vida, mas que é inalcançável já para nós seres humanos pelas próprias diferenças de “normal/correto”que existe entre nós. Por mais que seja mais isolado da cronologia,ela não é esquecida,tem o relacionamento do visão com a feiticeira escarlate,os vingadores,ultron etc. Funciona como um resumão do personagem também.

Outra coisa bem trabalhada é o problema “P versus NP” de que a solução de um problema é mais fácil do que a compreensão desse problema (pondo de maneira grosseira),que funciona perfeitamente como metáfora para o quadrinho, o Visão está sempre identificando seus anseios por humanidade mas nunca entendendo como chegar lá, ele é o P vs NP vivo.
1 -Mister Miracle de Tom King e Mitch Gerads

Da lista é a única que ainda não terminou mas duvido que fique ruim nas duas edições que faltam.

O Senhor Milagre (Scott Free) é um personagem do Jack Kirby que é o mestre da escapada e aqui ele tenta o seu maior truque,escapar da morte!
A historia começa com o Scott Free tentando um suicido. Encontramos ele em constante depressão e desapego da vida, enquanto isso o seu planeta Nova Gênese entra em guerra com Apokolips (de DarkSeid) e seu pai (rei de Nova Gêneses) morre. Agora ele tem que lidar com o seu irmão déspota assumindo o trono enquanto Darkseid pode ou não ter conseguido a Equação Anti-Vida…

Como deu pra perceber pelos outros quadrinhos eu não leio muito DC, mas esse é o melhor quadrinho (americano) que li em tempos recentes,não tem nada melhor nos últimos 5 anos. Lida com temas familiares (como em Vision) e com guerra (como em Omega Men e Sheriff of Babylon) em paralelo com o transtorno psicológico que o Senhor Milagre está vivenciando.

O Tom King faz um trabalho de mestre com a estrutura de 9 quadros junto do Mitch Gerads, que é exemplar em traduzir os conceitos e personagens do Jack Kirby para o seu próprio estilo visual.
Falar mais que isso já é spoiler porque acontece muita coisa.Mesmo sem saber nada do quarto mundo da pra entender bem.
*Edit: já li a última edição e fechou com chave de ouro,de maneira bem aberta e não entrega o que o o leitor quer,ainda é merecido o primeiro lugar.